O Papa Francisco concedeu uma entrevista de cerca de 40 minutos à TV 2000 e InBlu Radio, emissoras italianas, por ocasião do encerramento do Jubileu da Misericórdia neste domingo, 20. O Santo Padre recordou momentos marcantes desse Ano Santo, como alguns encontros das Sextas da Misericórdia.
Nas respostas, ficou claro que não interessa ao Papa fazer um balanço sobre o Ano Santo; ele destacou que o Jubileu foi vivido em todo o mundo, não só em Roma, e isso fez bem porque foi toda a Igreja a viver como uma espécie de “atmosfera” de Jubileu. Foi uma benção do Senhor, não um ponto final, mas um passo adiante em um processo, explicou Francisco.
“É uma linha eclesial onde a misericórdia é, não digo descoberta, porque sempre existiu, mas é proclamada fortemente, não? É como uma necessidade, uma necessidade que eu acredito que neste mundo, que tem a doença do descarte, do fechar o coração, do egoísmo, faz bem. Porque abriu o coração e tanta gente se encontrou com Jesus”.
Sextas da Misericórdia
Uma vez ao mês, às sextas-feiras, o Papa saiu do Vaticano para fazer uma obra de misericórdia indo visitar um lugar de sofrimento e de acolhimento. Sobre o encontro que mais lhe tocou o coração, o Papa elencou dois em particular: aquele com um grupo de mulheres libertas da escravidão da prostituição e a visita a dois hospitais romanos.
Da primeira situação, Francisco recordou o testemunho de uma das mulheres, que deu à luz na rua, sozinha durante o inverno, e acabou perdendo o bebê. “Ela me dizia: ‘padre, eu dei à luz no inverno na rua. Sozinha. Minha menina morreu’. Fizeram-na trabalhar até aquele dia, porque se não levava muito aos exploradores, era espancada, também torturada. De uma outra cortaram a orelha…E pensei não só nos exploradores, mas naqueles que pagavam as moças: não sabem eles que com aquele dinheiro, para obter uma satisfação sexual, ajudavam os exploradores?”
Na visita aos dois hospitais, o Papa pôde fazer experiência dos pontos extremos da vida, do início ao fim, e falou do choro de uma mãe diante de seus trigêmeos, porque o terceiro havia morrido. “E pensei no hábito de mandar embora os bebês antes mesmo do nascimento, este crime horrendo: mandam embora porque é melhor assim, porque é mais cômodo, é um pecado gravíssimo, é uma responsabilidade grande”.
Igreja pobre para os pobres
Também foi perguntado ao Papa na entrevista se é realmente possível uma Igreja pobre para os pobres. O Santo Padre respondeu que o maior inimigo de Deus é o dinheiro, e que ninguém pode servir a dois patrões, Deus e o dinheiro, e a Igreja como instituição é feita por cada um dos fiéis.
“O diabo sempre entra pelos bolsos, sempre. É a sua porta de entrada. Deve-se lutar para fazer uma Igreja pobre para os pobres, segundo o Evangelho, não? Deve-se lutar. E quando eu vejo Mateus 25, que é o protocolo sobre o qual nós seremos julgados, entendo mais o que significa uma Igreja pobre para os pobres: as obras de misericórdia. É possível, mas sempre se deve lutar porque a tentação da riqueza é muito grande”.
Falando de tentações, os jornalistas perguntaram quais são as tentações de um Papa, que se foi definido um pecador para o qual Deus olhou. “São as tentações de qualquer pessoa, de qualquer homem – respondeu Francisco – segundo as fraquezas de personalidade, que o diabo sempre usa para entrar, que são a impaciência, o egoísmo, depois um pouco de preguiça, mas entram todas, todas…E as tentações nos acompanharão até o último momento não?”.
Presidiários
O Senhor continua a me olhar com misericórdia e a me salvar, concluiu o Papa para depois passar a uma questão que o preocupa muita, os presos. “Por que eles e não eu?”, pensa o Papa quando visita um presídio.
“Tanto início de coisas ruins eu tive na minha vida que se o Senhor tivesse tomado minha mão fora…isso é, ‘por que eles e não eu?’. E depois, há um pensamento entre nós, que é um pensamento difuso: está na prisão porque fez algo ruim: que a pague. O cárcere como punição. E isso não é bom. O cárcere – podemos dizer entre vírgulas, para dar um exemplo – é como um purgatório, pensamos, isso é, para preparar-se à reinserção. Não há uma verdadeira pena sem esperança. Se uma pena não tem esperança, não é uma pena cristã, não é humana. Por isso a pena de morte não dá”.
Em seguida, uma pergunta pessoal ao Papa: o que é mais difícil para ele suportar, os detratores ou bajuladores. Os segundos, respondeu o Papa, dizendo que tem alergia a bajuladores. “Porque bajular alguém é usar uma pessoa para um objetivo, escondido ou que se vê, mas para obter algo para si mesmo”.
Fonte: Canção Nova